Nunca houve um início. Sempre houve um “há”. O “há” transforma-se infinitamente do tudo ‘há’ para o nada ‘há’.

Quando o tudo exaure as suas possibilidades de ser, o seu tempo se esgota. Tudo então se recolhe para um único ponto e explode-se num imenso nada de existir. Tudo se espalha infinitamente no Nada. O Nada torna-se pleno como a água espalhada de um copo que se vira sobre a mesa. O Nada impera e se torna a única existência possível. O Nada existe e persiste.

Há algum tempo no Nada, alguma lógica temporal que talvez seja impossível saber, impossível conhecer, embora saibamos que deva existir. Isso ocorre porque, sem que se explique ou espere, o Tudo torna a acontecer e o universo ‘acontece’. Acontece por justaposição do Tudo sobre o Nada. Como não conseguimos saber do tempo do Nada, também não conseguimos mensurar o quanto seu tempo demora. Um segundo ou um trilhão de anos? Impossível saber. Só o que conseguimos saber é que o Tudo se esconde lá no Nada. Ou aqui, no Nada.

O Tudo, então, acontece. Não uma explosão inicial, mas um débil espalhar de luz que rapidamente se difunde irregularmente criando direções e se reconectando a si próprio como o Tudo que hibernava em meio ao carinho do Nada. À medida que a luz se espalha o Tudo acorda atônito em explosões gigantescas e silenciosas. A sinceridade do Tudo permite-nos contar sua existência em anos, milênios, eras, diferente do intimismo do Nada.

Assim, num ciclo de mostrar-se e esconder-se o universo ‘acontece’, sem que possamos interferir minimamente no seu devir e por vir…