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Cultura do desapego: Você tem medo de quê?

Jéssica Horácio de Souza

Psicóloga Jéssica Horácio – CRP 12/14394 – Psicoterapeuta Corporal

Está comum não demonstrar, não se permitir gostar, se entregar, se expressar. Está cada vez mais comum fingir que não dói, que não se importa, que não toca. Neste universo tecnológico em que as relações acontecem também virtualmente, é normal que você já tenha recebido uma mensagem de alguém por quem tinha interesse e, apesar da vontade de respondê-la imediatamente, tenha esperado alguns minutos para não mostrar seu interesse e disponibilidade, para não demonstrar que “estava afim”. Ou, pode ser que você já se percebeu com vontade de convidar alguém para um programa mas por medo de que o outro a (o) visse como interessada (o) por ele (a) na relação, optou por se calar e fazer de conta que não sentiu a falta dele (a) durante a semana…

Estas situações fazem parte de um mito cultural que prega que a melhor forma de não sofrer é não se envolvendo, e que desta forma, é melhor utilizar das sensações como apenas reações fisiológicas, e jamais permitir que elas atravessem a mente para através dela construir os sentimentos correspondentes. Partindo do pressuposto desta cultura, aquele que sofre é o que sente por se entregar para a relação, sendo considerado fraco e vulnerável, deste modo, toda ação que envolva o gostar precisa ser evitada. Através desta crença, forte é aquele que finge não sentir ou, que evita não sentir.

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Esta cultura que é fortalecida direta e indiretamente através dos meios de comunicação e mídias sociais, possibilita que algumas pessoas devido a traumas envolvendo perdas, ou até mesmo aqueles indivíduos que dissociam o pensar do sentir, acreditem que ser forte é não demonstrar o que se sente, que por exemplo,  sentir saudade, vontade de abraçar, de dizer: “eu gosto de você”, “se cuida, você é importante pra mim.”, é assumir fragilidade e demonstrar para o outro as suas fraquezas. É desta forma que algumas pessoas entram nas relações: fragmentadas. Levam o corpo, e guardam a mente, justamente essa que nos diferencia das outras formas de vida no mundo, justamente esta que nos torna humanos. Devido à crença de que demonstrar o que se sente é errado, fingem não sentir, inclusive entendem que o corpo é apenas um instrumento utilizado para a satisfação das suas necessidades, e não o integram com a capacidade de dar significados para cada sensação que somente a mente humana possui.

Com isso vemos relações permeadas de jogos psicológicos onde o ganhador na relação é considerado aquele que demonstra menos, ou que nem demonstra. Vemos a partir desta cisão corpo e mente, pessoas que calam os seus próprios sentimentos, que escondem suas necessidades e desejos, que se frustram esperando que o outro demonstre, mas que jamais tem a iniciativa de demonstrar e expressar o que é importante para elas, em resumo, relações com este formato são vivenciadas por pessoas que optam sem perceber por sofrer por uma expectativa frustrada ou por não ter o que querem e ainda manter uma fagulha que as une ao outro na relação do que expressar o que sentem e terem a possibilidade de não serem atendidas.

A não expressão dos sentimentos contribui para a construção de falhas importantes na comunicação, para o distanciamento afetivo de um dos pares, mas principalmente e particularmente, para a analgesia sentimental. É provável que as pessoas que tem a sua personalidade norteada através desta cultura não sofram com as frustrações naturais das relações, até porque não se envolvem a ponto de criar expectativas quanto ao outro e ao próprio futuro a dois, mas em contrapartida, por não se envolverem, também são limitadas com relação aos prazeres vividos. É por isso que buscam constantemente mais e mais ofertas de prazer, porque não conseguem senti-lo plenamente e estão constantemente insatisfeitas, buscando em coisas e pessoas o preenchimento daquilo que falta em si: o desenvolvimento da capacidade integral do sentir.

O meio social contribui significativamente para a construção da personalidade humana e quando este mito cultural deturpado do apego está presente nela, pode ser absorvida por qualquer indivíduo, principalmente se ele possui em seu traço de caráter traumas relacionados a frustração, medo de entrega, traição e desconfiança.

Tais comportamentos geralmente somente serão percebidos como prejudiciais quando o indivíduo após várias buscas por se satisfazer, acaba se percebendo insatisfeito, ou ainda, quando as críticas alheias sobre a sua falta de envolvimento e comportamentos superficiais começam a fazer sentido para ele. Nestes casos a busca pela psicoterapia acontece e as revelações sobre a forma como vive também, percebendo deste modo as defesas criadas para evitar lidar com frustrações não elaboradas e que permanecem orientando a sua forma de lidar com o mundo a sua volta.

Através da psicoterapia é possível identificar os prejuízos que esta defesa trás e assim, elaborar os conflitos passados que permitiram a construção desta forma defensiva bem como, aprender novos comportamentos que possibilitam o contato com o livre sentir, afinal, quando os medos são elaborados, as defesas desaparecem e os comportamentos saudáveis surgem pois não há mais necessidade de enfrentar ou de fugir de nenhum monstro psiquíco.

Por isso, reflita como você lida com o que sente, se você é honesto consigo e com o outro a respeito do que sente, ou, se também se deixa afetar por jogos psicológicos para evitar lidar com os seus próprios medos. Os nossos medos não se curam quando os negamos, mas sim quando nós os enfrentamos.


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