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Cinema, política e ciência

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Wagner Fonseca – poeta, professor e blogueiro

Às vezes a arte tem o poder de nos fazer refletir sobre nossa realidade de uma forma mais profunda. Bem, uma das funções da arte é justamente nos fazer pensar sobre tudo que nos rodeia e, de certa forma, pode-se até afirmar que se a arte não nos faz pensar sobre nosso mundo, então seria uma arte menor. Isso é discutível, porém, o cinema, a sétima arte, sempre traz até cada um de nós uma pulguinha atrás da orelha e quando isso acontece, temos o poder para refletir questões da nossa atualidade.

Nessa semana comecei a assistir a série “Chernobyl”, recente produção do canal HBO e que discute a catástrofe nuclear ocorrida na Ucrânia, antiga União Soviética, em 1986. Afora as adaptações à obra de arte cinematográfica, se faz indispensável traçar alguns paralelos entre a realidade pungente do dia a dia do nosso mundo globalizado, os aspectos sócio históricos, notadamente, com algumas mensagens que ficam no ar, pelo menos nos quatro episódios iniciais que assisti.

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O primeiro ponto evidencia o peso e dimensão de um Estado totalitário: “olhos e ouvidos” estão por toda parte observando as atitudes e palavras das pessoas. É assim que funciona um Estado totalitário: padronização, da arquitetura aos pensamentos e atitudes individuais, amor ao Estado acima de tudo – que deve ser demonstrado sempre! – e um medo e uma burocracia gigantescos. No início mesmo da série o embate entre o pensamento científico e as artimanhas da política já aparecem denotando o teor do que se seguirá.

O especialista, aquela pessoa estudada cujos anos de estudo e pesquisa garantiram-lhe diplomas e conhecimentos necessários para o crescimento da nação alerta sobre a necessidade urgente de evacuação da área, algo que poderia rápida e organizadamente ser feito pelo imenso aparato estatal soviético, mas isso não ocorre.

Do outro lado da mesa o político velho – e não o velho político – representando o poder maior do Estado, destoa totalmente da fala do especialista, emite um discurso tipicamente diplomático – mas sem as honras do diploma, só para ser um pouco sarcástico – no intuito de mostrar que o Estado sabe mais para o bem do povo do que o próprio povo ou o homem do povo que estudou sua vida inteira para pensar o bem do povo. Esse é o nosso segundo ponto: quando o cientista não é ouvido pelo político, os problemas começam a piorar.

Não convém aqui contar mais detalhes da história da série, pois quero deixar a curiosidade no ar para que cada um possa assisti-la e tirar suas próprias conclusões. Àqueles fãs de história é uma boa pedida para reflexão da história recente e, obviamente, aos haters do comunismo e da esquerda, um prato cheio para criticar o “lado oposto”. Aliás, por falar em lados, é possível assistir a série independente desse olhar dualista – e por que não, maniqueísta – de acusação entre direita e esquerda sem, contudo, traçar críticas ao conceito de totalitarismo, não para deturpá-lo, mas sim para compreendê-lo, inclusive para além do “maniqueísmo” citado acima.

Enquanto buscava o sono fértil e imaginativo, as ideias me vieram à mente e consegui estabelecer um breve paralelo entre Chernobyl e, pelo menos, outras duas obras cinematográficas: “O dia depois de amanhã”, um blockbuster alarmante sobre a questão climática, e uma obra pouco conhecida, o filme “O ponto de mutação”. O primeiro filme já é um velho conhecido nosso e, para mim, dificilmente a Natureza castigará a humanidade daquela forma. Acredito que antes de nosso planeta causar eventos catastróficos rápidos, veremos nossa espécie sufocando aos poucos, como uma ferida que cicatriza bem devagarinho e faz doer. Desculpem-me se pareço pessimista, mas minha intenção não é atenuar nada mesmo.

O filme “O ponto de mutação” tem o mesmo nome do livro escrito pelo físico teórico Fritjof Capra, conhecido nome para quem estuda holística e pensamento sistêmico. No filme temos um diálogo entre um poeta e seu amigo senador estadunidense com uma também física teórica. Ambos se encontram num belo local do litoral francês que diariamente apresenta um fantástico evento natural de sobe e desce das marés. O filme debate as ideias contidas no livro de Capra e foi produzido pelo irmão do autor.

Não vou entrar em detalhes do filme – o livro, confesso, não o li em sua totalidade, embora já o tenha estudado e as suas ideias – todavia o trouxe aqui por apresentar um paralelo com a série Chernobyl. Se naquela obra o político tarda a ouvir o cientista, nesse filme nós vemos a ideia de Capra sobre o que seria um pensamento sistêmico, ainda de que de forma reduzida: a arte, a política e a ciência pensando em conjunto os problemas da humanidade e de nosso planeta.

Alguns mais radicais podem, inclusive, dizer que o problema do planeta somos nós (quem assistiu Godzilla II, rei dos monstros, vai entender isso). Entretanto, o filme, assim como o livro, nos trazem essa mensagem, de que os problemas que nós mesmos criamos para nossa casa comum só podem ser sanados em conjunto pelas mais diferentes formas de conhecimento.

O debate sobre esses temas ainda pode nos render muito, mas fica a reflexão mais que urgente para nossos dias. Nossos políticos precisam de uma sensibilidade maior do que têm, na verdade precisam mesmo é parar de pensar o mundo apenas pelos números da economia e entender que economia e ecologia possuem a mesma raiz na essência, que é o cuidado com nossa casa.

Não há conhecimento que seja maior ou melhor que outro, apenas há diferentes formas de conhecimento que precisam descer do seu altar de soberania individualista e olhar para o mundo como um todo, pois é isso que somos. O discurso egocêntrico precisa ser revisto, pois o narcisismo individualista parece esquecer que nossas individualidades só se completam na existência e respeito profundo ao outro. Sem o outro nada somos e nosso outro não é apenas um ser humano concreto, feito de carne e espírito.

Nosso outro é também composto por ideias e conceitos, por subjetividade, por visões diferentes sobre um mesmo mundo em que compartilhamos nossas vidas. Ou política, economia e ciências se unem ou nada restará em pouco tempo para ser reunido.


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