Com elenco praticamente todo remanescente da temporada passada, o Criciúma pouco se mexeu na janela de transferências. Até este momento, somente quatro contratações foram concretizadas. Parece pouco, mas é próximo do suficiente para preencher as lacunas do plantel.
Entre os contratados está o atacante Pimentinha, de 29 anos, vindo do Sampaio Corrêa. Atacante que atua preferencialmente na ponta-direita, ele chega ao Tigre com o status de jogador atrevido e driblador, que fez nome no futebol maranhense. Em 141 jogos durante quatro anos, fez 38 gols e deu 15 assistências pela Bolívia Querida. Mas analisando os números e verificando o comportamento jogo após jogo, nota-se que nem tudo é um mar de flores que os mais empolgados torcedores e jornalistas tentam pregar.
Foto: Fernando Ribeiro | Criciúma E.C.
Pimentinha, em uma análise mais fria, foi um atleta que viveu de lampejos dentro do Sampaio Corrêa, pouco participativo taticamente, de pouca efetividade no jogo ofensivo e que demonstra algumas deficiências, especialmente nos fundamentos. Vale citar que nem mesmo o fato de sua ex-equipe ter sido a lanterna da última Série B justifica isso, porque são muito semelhantes aos dados de 2015, quando a Bolívia Querida terminou em 8º lugar, sete pontos atrás do G4.
Puxando dados do site Foot Stats, Pimentinha acertou somente nove cruzamentos e errou mais de 50 em 26 jogos durante toda a Série B do Campeonato Brasileiro de 2016. No ano anterior, acertou 13 e errou 34, sendo que fez uma partida a menos. São os primeiros números preocupantes, tendo em vista que atua pelo lado do campo e certamente terá tendência a realizar cruzamentos.
Pimentinha também tem baixo índice de finalizações certas – 16 em 2016 e 14 em 2015. Vale citar que em 15 jogos nos dois anos, Pimentinha sequer acertou chutes na meta. Outro dado preocupante no que tange os fundamentos está no passe. Na última temporada, o novo atacante do Criciúma acertou 248 passes na Série B, média de 9.53 por jogo. No ano anterior, o número foi pouca coisa superior: 255 passes certos, média de 10.2 por partida.
Em contrapartida, é importante ressaltar que Pimentinha foi o jogador do Sampaio que mais deu passes para finalização: 28 ao todo. Ou seja, em todo jogo ele pelo menos dava um passe que resultava em chance de gol. Isso explica o baixo número de assistências, tendo em vista que a equipe do Maranhão teve o pior ataque da Série B de 2016, com apenas 29 gols marcados.
O dado que realmente me preocupa, entretanto, é o de ocupação de espaço. Como mostra o mapa de calor do Foot Stats, que abrange toda a temporada de 2016, Pimentinha é um jogador que preenche uma parte diminuta do gramado, quase sempre no flanco direito. Incomoda o fato de contribuir pouco sem a bola e também a quase que inexistente flutuação.
Arte do site Foot Stats
Futebol moderno envolve intensidade, movimentação e participação em todas as fases do jogo. Portanto, ter em mãos um atleta que se fixa a um limitado espaço do gramado e participa da partida apenas quando a equipe tem a bola, é comprometedor.
Mas aí você me questiona sobre os dribles. Em 2015, o Foot Stats aponta que foram 15 certos, enquanto em 2016 este número subiu para 20. Em ambas as temporadas ficou abaixo da média de um por jogo.
“Ah, Eduardo, mas você se vê defeito”. Talvez seja um pouco disso, mas como faço em quase toda vez que o Criciúma contrata alguém, decidi consultar alguém que realmente viu o atleta jogar. Conversei com o colega Bruno Alves, do Globo Esporte e também do site Futebol Maranhão, e ele foi bem claro quanto ao Pimentinha: “Ele é o tipo de jogador que é craque para a Série C, mas não rende na Série B”.
Bruno Alves ainda trouxe em seu site um relato preciso, descrevendo a passagem de Pimentinha no Maranhão. A impressão passada é muito semelhante a vista nos números: jogador de muita velocidade e atrevimentos nos dribles, mas impreciso em diversos aspectos fundamentais, como passes e finalizações.
É claro que tudo isso que falei não é garantia de fracasso. Não são raros os casos de atletas que jogam pouco ou quase nada em um clube e simplesmente fazem história e empilham títulos em outros. Nada impede que Pimentinha consiga fazer uma temporada de destaque no Criciúma, mas admito que não estou com a mesma animação de outros colegas quanto ao atleta.
Deivid tem um árduo desafio em mãos. Encaixar Pimentinha entre os 11 titulares vai exigir dele e também do atleta, já que pela frente vem uma dura disputa de Campeonato Catarinense, além da almejada Série B.
