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Portas abertas: detentos são premiados pelo concurso “A poesia vai de ônibus”

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Entre mais de 400 inscritos, projeto premiou 50 autores, incluindo dois reeducandos do presídio Santa Augusta

Diariamente, mais de 40 mil pessoas utilizam o transporte coletivo de Criciúma. São 40 mil histórias que cruzam a cidade, vão e voltam na pressa cotidiana. Mas, e quem conta as histórias que não podem se locomover? A terceira edição do projeto “A poesia vai de ônibus”, realizado pela ACTU, em parceria com a ACLe (Academia Criciumense de Letras), é uma das ferramentas utilizadas para que estas histórias alcancem a população.

É o caso dos poemas do Leandro Marques dos Santos e do Alan Leite de Rezende. Eles são reeducandos do sistema prisional, e passam seus dias no Presídio Santa Augusta. Mesmo inseridos na realidade do presídio, ambos fazem parte dos 50 escritores selecionados, entre 400 candidatos, a terem seus poemas expostos em toda a frota dos ônibus de Criciúma.

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Para expressar sentimentos

Como todas as outras, a história de Santos tem seus altos e baixos. Mesmo detido há dois anos e oito meses no presídio Santa Augusta, ele conseguiu garantir seu espaço no transporte coletivo. Agora, os passageiros podem conhecer e, quem sabe, se identificar com o sentimento de solidão expresso pelo autor em seu poema. “É uma forma de mostrarmos que, mesmo estando presos, existe potencial aqui dentro, temos muito a somar na sociedade, e este concurso é uma das oportunidades que temos de demonstrar nossos sentimentos, nossa visão de mundo”, comentou o reeducando.

No poema chamado “Solidão”, Santos expressa sua crença de que as interações sociais devem apenas acrescentar, e não subtrair. “Meu poema retrata a forma como interagimos com as pessoas e como elas interagem com a gente, pois acredito que temos que conhecer a nós mesmos, já que as vezes as pessoas se aproximam e roubam um pedaço de nós. Eu acredito que isto está errado, e devemos sempre somar à vida de quem interagimos. Somos formados por momentos ao lado de pessoas, e as pessoas que realmente gostam de nós são aquelas que nos fazem quem somos hoje”, explicou o autor.

A leitura no processo de reeducação

A vida atrás das grades trouxe mudanças para Santos. “Antes, não lia muito”, afirma. “Agora, encontrei o prazer da leitura, e isso me deu base para escrever meu poema, participar do concurso e ser reconhecido, além de me direcionar para diversos títulos de qualidade disponíveis aqui na biblioteca”, contou o reeducando, que apontou Dom Casmurro, de Machado de Assis, como sua obra favorita da literatura.

“Eu sabia o que queria falar, mas não sabia como. Aí, com o hábito da leitura, fui escrevendo aos poucos e nos momentos de inspiração, até que meu poema estivesse completo e expressasse o que eu sentia. A leitura faz com que estejamos presos, mas ao mesmo tempo livres. As grades se rompem e viajo no mundo que fica por trás destas paredes”, revelou Santos.

A leitura também abriu mais uma porta para o reeducando: a graduação. “Em quatro, cinco meses, posso ser transferido para o regime semiaberto, e aí poderei seguir com esta vontade”, frisou Leandro. Ele realizou a prova do Enem 2018, e garantiu uma bolsa de estudos no curso de Educação Física – Bacharelado da Unesc. “Se não fossem os livros, eu não teria o embasamento para conseguir esta bolsa, e espero que em alguns meses possa ter acesso ao estudo na universidade”, disse.

Versos que gritam esperança

O texto do colega de Leandro, Alan Leite de Rezende, também expressa um momento delicado da vida do autor. “O poema inicia com minha situação no momento da minha condenação. Eu estava muito abalado, afogado na condição em que me encontrava. Acreditava que não houvesse esperança, mas percebi que precisava entender que tinha que seguir em frente e parar de olhar para o passado”, explicou o autor do texto chamado “Uma volta que te traga de volta”.

A aproximação com a leitura fortaleceu o sentimento de esperança pelo que ainda está por vir. “A poesia tem me ajudado muito, ela pode ajudar as pessoas a libertarem seus sentimentos, aumentar a extensão de suas emoções, e é o que estou fazendo. O poema é uma extensão da minha vida social aqui dentro da penitenciária, é mais uma maneira de me manifestar e me fazer notado”, contou Rezende, que já escreveu dois livros desde que entrou para o regime prisional, há um ano e um mês. “Vamos ver se conseguimos publicar estes livros e, quem sabe, mais livros podem vir pela frente”, colocou o reeducando.

Suporte educacional

Quem apresentou o projeto “A poesia vai de ônibus” para os reeducandos foi a professora do projeto de Remissão por Leitura da penitenciária, Edna Galeazzi Peres. “Ao todo, foram cinco poemas inscritos no concurso, e tivemos estes dois premiados. É uma alegria saber que nosso esforço está dando resultados, pois eles recebem aulas e se prepararam para escrever os poemas, e foi a primeira vez que participaram e já receberam o reconhecimento pelo trabalho”, apontou a docente.

Atualmente, o presídio Santa Augusta conta uma turma de reeducandos que cursam o Ensino Médio, através do CEJA, e outra cursando o Ensino Fundamental. O projeto Remissão por Leitura oferece diminuição de quatro dias por livro lido na pena do reeducando.

O interesse no concurso “A poesia vai de ônibus” é visto como uma boa notícia pelo presidente da ACTU, David Mário Tiscoski. “Realizamos muitos projetos ao longo do ano, mas acredito que este seja especial, pois ele trata de sentimentos, da vida dos autores”, observou.

Para ele, tanto Leandro quanto Alan conseguiram captar a essência do projeto, e expuseram seus sentimentos de maneira leve, mas direta e real. “Ambos os textos apresentaram muita qualidade, e foram selecionados puramente pelo mérito, pois a seleção é realizada através de pseudônimos, e os responsáveis por selecionar os vencedores conhecem apenas o nome dos poetas. É uma alegria estar aqui entregando estes certificados para os dois reeducandos, e esperamos que continuem participando do projeto nos anos futuros”, comentou Tiscoski.

A segunda edição do projeto “A poesia vai de ônibus” também contou com outro premiado inusitado. Uma reeducanda da penitenciária Feminina de Criciúma teve seu poema selecionado, e recebeu o certificado no mês de março de 2019.

Redação – Novo Texto Comunicação


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